domingo, 1 de maio de 2011

Cristãos no mundo

Desconhece-se o autor desse escrito dirigido a Diogneto. Ele parece ter sido escrito em Alexandria, por volta do ano 200. O autor faz uma vibrante apologia do cristianismo para seu destinatário pagão:

Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem pelo país, nem pela linguagem, nem pelo vestuário. Eles não habitam cidades que lhes sejam específicas, não fazem uso de um dialeto extraordinário e seu modo de vida nada tem de singular [...]

Eles se distribuem pelas cidades gregas e bárbaras, aceitando a parte que lhes cabe; amoldam-se aos usos locais no que se refere às vestes, à alimentação e à maneira de viver, embora manifestem as leis extraordinárias e verdadeiramente paradoxais de sua república espiritual.

Cada um deles reside em sua própria pátria, mas como estrangeiro domiciliado. Eles cumprem todos os seus deveres de cidadãos e aceitam todos os encargos como estrangeiros. Toda terra estrangeira é sua pátria e toda pátria, uma terra estrangeira. Eles se casam como todo mundo, têm filhos, mas não abandonam seus recém-nascidos. Partilham todos a mesma mesa, mas não o mesmo leito.

Eles estão na carne, mas não vivem segundo a carne. Passam sua vida na terra, mas são cidadãos do céu. Obedecem às leis estabelecidas e sua maneira de viver supera, em perfeição, essas leis.

Eles amam todos os homens e todos os perseguem. São desprezados e condenados; são mortos e, com isso, ganham a vida. Eles são pobres e enriquecem um grande número de pessoas. Falta-lhes tudo, mas têm todas as coisas em abundância. São menosprezados e, nesse menosprezo, encontram sua glória. São caluniados e se justificam. São insultados e bendizem [...]

Numa palavra, o que a alma é no interior do corpo, os cristãos são no mundo. A alma se difunde por todos os membros do corpo, como os cristãos nas cidades do mundo. A alma habita o corpo e, no entanto, não é do corpo, como os cristãos habitam o mundo, mas não são do mundo [...]

A alma se torna melhor ao se mortificar pela fome e pela sede: perseguidos, os cristãos dia-a-dia se multiplicam sempre mais. Tão nobre é o posto que Deus lhes concedeu que não lhes é permitido desertar.